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NO SILÊNCIO DE MINHAS INSÔNIAS.

O que faço por Debinha não é o que deixo
de fazer por Barbarah, mas sim, o que não posso fazer
por ela é o que faço por sua irmã.

Nunca pensei que fosse escrever sobre isso, mas já previa que estava chegando o dia.

Quinta-feira, 03 de abril de 2008

Ultimamente Debinha está com o hábito de acordar de madrugada, ou melhor, antes das 3horas. Algumas vezes tendo acordado antes das 2h. Deborah quer apenas que fique com ela em seu berço, pois em seguida volta a dormir, mas se eu ameaço sair, chora e resolvo ficar ali, muitas das vezes acordado em silêncio a cantarolar baixinho, canções de ninar para fazê-la dormir.
Quando ela não acorda, mesmo assim não consigo dormir a noite por completo, várias vezes acordo pensando que ela está me chamando...e assim, talvez por esta ansiedade, vivo meu período de insônia, coisa que nunca havia tido na minha vida.
Quando alguém falava nesta palavra, eu não acreditava que ela pudesse existir, porém agora as madrugada fazem parte de minha vida.
Nesta semana, na quinta-feira, 02 , acordei por volta de 1h15 e não consegui mais dormir, era como se a cada segundo eu iria ouvir Debinha me chamando e aquela ansiedade e certeza me impedia de dormir, pois qualquer ruído eu achava que fosse ela acordando. Se o barulho de um carro rasgava a madrugada eu me assustava com medo de que ela fosse acordar, então eu não conseguia dormir.
No silêncio da noite que agonizava lá fora no frio da noite que também chorava, ouvi todos os meus pensamentos gritarem de uma só vez: Deus por que Debinha não fala comigo? Acho que a minha insônia é essa ansiedade que me atormenta. Ou melhor, essa esperança que me alimenta a cada dia. Não sei. Ninguém acredita nos poetas, nem mesmo outro poeta, por isso acho que a madrugada é o melhor momento para falar com Deus, para ouvir nossos pensamentos.
E nesta madruga um pensamento me veio à lembrança, acho que isso foi um dos motivos de minha insônia nesta madrugada.
Às vezes certos comentários me deixam triste e um desses aconteceu com Barbarah. Estávamos almoçando quando ela nos falou: Paínho, uma mulher não vou citar nome) falou assim: Olha, teu pai só escreve sobre tua irmã e nunca pra ti.”
Aquilo me machucou bastante, pois se não fosse o carinho e a dedicação que Suelane eu temos para com a Barbarah, realmente aquele comentário teria lhe machucado bastante.
Depois a chamei para o quarto e falei muitas coisas sobre aquele comentário:
- Filha, eu queria muito fazer com a Deborah o que faço com você: como andar de bicicleta, brincar na Internet, jogar vídeo game, correr pela chuva, jogar xadrez, ou até mesmo pescar no rio no final de semana, ir pegá-la na escola. Como eu queria também ficar torcendo por ela durante as partidas de voley e mesmo que ficasse sentadinha no banco de reserva todas às vezes, lhe confesso que seria feliz do mesmo jeito. Como eu queria fazer com a Debinha o que faço com você: Ir com ela comprar livros, jogos interativos e sair pelas lojas, camelôs comprando vídeos de filmes, e mesmo que tivesse que comprar outra vez toda a coleção da Barbie eu não iria me aborrecer.
Paínho, o papai queria poder fazer com Debinha apenas dez por cento do que faz com você e isso já seria suficiente, mas como nada disso posso, resta-me apenas sonhar nos meus poemas, e se eu os divulgo é porque sinto que faz bem a alguém, não porque eu goste mais dela do que de você, pois eu não posso dimensionar o amor que tenho por vocês quando só me resta o infinito como medida e não sei quantos universos são preciso para medir eterno amor.
O que faço com Debinha não é o que deixo de fazer por você, e sim o que não posso fazer por ela. Sei que me entende, mas preciso dizer tudo isso e publicar, pois a mesma observação fazem a mim, algumas pessoas.
Barbinha é incrível, apenas segurou minha cabeça e me deu um beijo na testa: Se preocupe não, painho, eu nem liguei. Te amo. Disse, e ao sair ainda se virou para me enviar outro beijo, o que sempre faz quando me olha.
Mas o coração de poeta é de água, talvez seja por isso que é fácil molhar os olhos por tudo ou por quase nada. .. e naquela madrugada, talvez eu tenha colocado o meu coração de água toda pra fora tamanha a dor que sentia...Até onde aquela mulher estava certa? Mas lembrando do beijo e das palavras tão meigas da Barbarah eu chegava a sorrir e molhava os lábios de lágrimas, acho que era assim que meu coração de água voltava outra vez para o meu peito...e acabei cochilando e acordei minutos depois para cobrir a Barbinha com o lençol, pois o frio havia se refugiado ali também com medo da chuva que chorava lá fora.
_ Painho, eu sonhei que você me cobria com a folha de um livro, como se fosse um lençol. - Barbarah falou quando lhe acordei para ir para o colégio, coisa que eu queria muito fazer com Deborah e sei que nunca vai ser possível, então só me resta escrever ...e sonhar, mesmo acordado no silêncio de minhas insônias.
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* Deborah, 15 anos, permanece todo este tempo em silêncio a me olhar aPAIxonadamente, parece até que consegue ler meus pensamentos. Eu, no sonho de um dia vê-la tagarelando ao meu lado e lendo minhas poesias, passei a escrever o seu diário que depois o transformei num livro. Esta é um dos poemas.

Transcrito do livro : O Diário de Déborah
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Vaumirtes Freire o poeta do silêncio