Autores

Populares

Recentes

Temas


Charles Chaplin sobre a vida

Cartas de amor para namorados

Clarice lispector frases

Depoimentos de amor

Depoimentos para amigos

Frases bonitas

Frases de Bob Marley

Frases de Fernando Pessoa

Frases de William Shakespeare amor

Frases de saudades

Frases inteligentes

Mensagens de feliz aniversário

Poema de Mário Quintana amor

Poemas de amizade

Poemas de amizade de Charles Chaplin

Poemas famosos de amor

Textos de amizade

Textos de amor

Versos curtos de amor

Versos de amizade



Pensava que escrevia por timidez, por não saber falar, pelas dificuldades de encarar a verdade enquanto ardia, arvorava, arfava. Há muitos que ainda acreditam que começaram a escrever pela covardia de abrir a boca. Nas cartas de amor, por exemplo, eu me declarava para quem gostava pelo papel, e não pela pele, ainda que o caderno seja pele de um figo. O figo, assim como a literatura, é descascado com as unhas, dispensando facas e canivetes. Não sei descascar laranjas e olhos com as unhas, e sim com os dentes. Com as mãos, sei descascar a boca do figo e o figo da boca, mais nada. Acreditei mesmo que escrever era uma fuga, pedra ignorada, silêncio espalhado, um subterfúgio, que não estava assumindo uma atitude e buscava me esconder, me retrair, me diminuir. Mas não. Escrever é queimar o papel de qualquer forma. Desde o princípio, foi a maior coragem, nunca uma desistência, nunca um recuo, e sim avanço e aceitação. Deixar de falar de si para falar como se fosse o outro. Deixar a solidão da voz para fazer letra acompanhada, emendada, uma dependendo da próxima garfada para alongar a respiração. Baixa-se o rosto para levantar o verbo. É necessário mais coragem para escrever do que falar, porque a escrita não depende só de ti. Nasce no momento em que será lida.

Fabrício Carpinejar