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Tenho saudades

Saudades de minha infância sapeca, onde ninguém me agüentava;
Saudades do tempo da escolinha, que minha mãe ia me buscar e eu queria ficar mais;
Do tempo em que os adultos faziam trabalhos longe de mim, mas que eu sempre acabava descobrindo e queria fazer junto;
Saudades de minhas travessuras, aquelas inesquecíveis que quando lembro me mato de rir;
Saudades dos finais de semana que passava no sítio, na casa da vovó, das pessoas que cuidavam de mim para eu não aprontar, mas não adiantava.
Das tantas vezes que eu e minha prima brincávamos, brigávamos e aprontávamos muito.
Saudades do tempo que tudo era brincadeira;
Saudades do tempo em que com um pedaço de madeira tentava alcançar o céu;
Daquele tempo em que eu não precisava preocupar-me com nada;
Do tempo em que eu só aprontava na escola, que as professoras chamavam minha mãe na escola, do tempo em que elas não podiam me ver que se desesperavam;
Do tempo em que antes de dormir rezava pro “Anjinho da Guarda” me cuidar, do tempo em que eu tinha medo dos mortos e do escuro;
Saudades do tempo que minha mãe me proibia de assistir “Chaves”, que eu adorava assistir o “Pica-Pau”, melhor desenho que já existiu;
Saudades do tempo que eu queria ser médico, jornalista, advogado, padre...;
Saudades do tempo em que eu não precisava trabalhar e mesmo assim queria e que odiava ter que acordar cedo para ir pra aula;
Saudades do tempo em que as professoras corriam atrás de mim;
Do tempo em que tudo era fantasia;
Do tempo que me escondia para não me acharem;
Saudades do tempo que eu quebrava os canos d’água na casa da vovó;
Saudades...;
Saudades do tempo em que era feliz e não sabia;
Do tempo em que ser “Grande” é que era ser feliz;
Saudade do tempo em que tirava as rédias do cavalo pra ele beber água e ele fugia de mim;
Saudade dos sábados que passava na casa da minha avó e meu avô me chamava pra almoçar, ou então quando saia de caminhão com o vovô e só incomodava ele;
Do tempo que ligava os carros sem saber dirigir;
Saudades do tempo que eu pensava que a vida era um sonho onde eu tinha dormido e não conseguia acordar;
Saudades do tempo em que eu adorava tocar violão;
Do tempo que desmanchava o rádio pra arrumar ele, mesmo quando não estava estragado, mas depois sim que estragava;
Hoje olho pra trás e vejo que era feliz e não sabia, não sabia aproveitar a fase melhor da vida, e se pudesse voltar a trás, nossa, com certeza teria aprontado muito mais do que eu aprontei, teria aproveitado melhor cada momento;
Hoje sei que o tempo não volta e que basta agora é viver cada momento da melhor forma possível;
Hoje as pessoas olham pra mim e nem imaginam o quanto eu fui uma criança rebelde;
Quando olham pra mim, vêem uma pessoa forte, sempre sorridente e incapaz de magoar alguém;
Vêem uma pessoa cheia de sonhos, que não sabe se poderá realizar todos, mas que fará o possível para realiza-los.
Fui feliz, sou feliz e se ajudei apenas uma pessoa a ser feliz, valeu a pena ter vivido.
Faço minhas as palavras de um dos maiores poetas de nossos tempo, Mário Quintana: “Quero, um dia, poder dizer às pessoas que nada foi em vão... que o amor existe, que vale a pena se doar às amizades a às pessoas, que a vida é bela sim, e que eu sempre dei o melhor de mim...e que valeu a pena”.

Rauphi Girardi