F. Pereira Nóbrega: N(AMOR)ADA Cessem os ruídos das máquinas, os est



N(AMOR)ADA

Cessem os ruídos das máquinas, os estampidos das armas,neste século da tecnologia, para um dia se falar de amor. Hoje quero romantismo "Quero de volta a primeira estrela que vier para enfeitar a noite de meu bem". Foi pelas estrelas mesmo que tudo começou. Esse piscar de olhos dentro da noite universal! E a mesma resposta da outra estrela defronte! E cada um em sua órbita, na dança que hoje as aves repetem quando desejam o amor.

Uma força uniu o pó das galáxias, e o universo aconteceu. A mesma força casou prótons e nêutrons no coração dos átomos. Ela mesma casou átomos em moléculas, e estas em células. A mesma força que no mundo faz as pedras unidas - o amor.

Ao sopro do vento o pólen casa as flores. E no embalo de gorjeio, as aves se casam também. Desde as origens da vida, todo ser espera o primeiro carinho para poder existir. É o amor precedendo a existência. Quem de algum modo não foi desejado, não conseguiu nascer. E daí em diante toda a vida é encontro, desde o do esperma e do óvulo na fecundação. Do amor-encontro surge a mãe gestante, o primeiro berço da vida. Ela é toda inteira uma canção de ninar, para um sono de nove meses.

A gente pensa que primeiro existe e depois é amado. Primeiro ama e depois tem saudade. Já disse que o amor precede a existência. E a saudade precede o amor. A gente já nasce inimiga da solidão, com vontade de um encontro, com saudade de quem nunca viu. Fizemos telefones e correios para encurtar as distâncias, repetindo a façanha das estrelas flertando no correio de anos-luz. E foi por essa saudade congênita que fizemos estradas também. Toda estrela parece que espera por alguém que nunca vem.

Adolescentes de todas as idades, aprendam uma vez mais que nem o noivado, nem o casamento são mais importantes que o namoro. Case quando quiser, mas namore a vida inteira. Nada mais fúnebre do que o casamento dos que não se namoram mais. Se a gente tira o amor da namorada, o que é que fica? Nada! exatamente como se escreve: n(amor)ada.

F. Pereira Nóbrega

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