Marcio Funghi de Salles Barbosa: A CULTURA DA EMPRESA Um dia o indivíduo se cansa



A CULTURA DA EMPRESA

Um dia o indivíduo se cansa de correr para os outros, ou atrás de empregos e resolve partir para o “seu negócio”.
Pensa, que pensa, briga com a mulher pela “sua intolerância”, com a sogra “pela constante implicância”, corre até o boteco, onde os amigos fiéis o acolhem sempre, ou então vai até a mamãe, que é sempre imparcial, “a favor do filho”.
E fala, que fala, e crescendo em seu idealismo, pimba: Nasce uma empresa!
O dinheiro é curto, mas a idéia parece boa.
Procura um possível comprador e descobre, que eles estavam precisando, há tempos, que alguém tivesse esta idéia brilhante. A primeira encomenda é uma piada: 30 unidades.
Pede ao primo rico e descobre que o Banco é mais barato, pois não tem que ouvir asneiras, do tipo: “Só trinta!? Você está ficando louco!”
Hipoteca o carro, a casa, compra o estritamente necessário, fica alguns sonos sem dormir, mas “Voila!”, conseguiu produzir as trinta em tempo recorde, com boa qualidade.
Entrega, recebe aquele dinheirinho, que corresponde ao gasto inicial, mais 15% “de lucro”, sem incluir a mão de obra, a eletricidade, a água, os minutos atendendo a mulher ao telefone, que queria falar do júnior, que estava “quase reprovado” e outras coisas “sem importância”, pois tivera sucesso.
Recebe uma encomenda de 100 iguais...
Não sendo burro, resolve buscar o Otacílio, amigão da sinuca, que estava desempregado, ensina-o a produzir as 100, com comissão, pois não pode pensar em salário.
Deixa o Otacílio se virando com todo o entusiasmo e sai em busca de novos clientes. Consegue em vinte dias, mais 1000 encomendas iguais.
Passa o Otacílio para chefe-treinador, com um modesto salário, contrata mais 3 peões do ramo e manda a esposa e a sogra engolirem as imprecações, mas elas afirmam “que é mera sorte de incompetente”.
Em um ano está produzindo 5.000 por mês. Resolve sair da informalidade, registra a micro-empresa, contrata um anúncio num jornal de repercussão e em 10 anos contrata uma empresa publicitária (barata), que acaba tendo uma idéia fantástica. Suas vendas crescem para 500.000 por mês e esperto, continua expandindo, até chegar a 1.000.000 por semana, iguais àquelas.
O Otacílio? É Diretor de Produção; além disto a empresa já tem um casca grossa no RH, que põe medo até na sogra de qualquer um; o carinha de vendas vive com a pressão alta, mas esconde seus chiliques, que só a Da. Carminha ouve (a secretária). E vende, que vende!
Um dia, nosso bem sucedido personagem vai dar uma volta no carrão e resolve ver a periferia onde omite já ter habitado lá.
Vê os velhos colegas de sinuca, mas os vidros escurecidos do carro, o ocultam. “Ainda bem! Já imaginou se me reconhecessem e me fizessem passar o desgosto de dizer não, a algum pedido de empréstimo?”.
Dá umas quatro viradas de esquinas e, pasmem... Descobre uma fabriqueta vagabunda, anunciando ser produtora das mesmas, com uma diferencial na aparência, que não percebera até então!...
Quase tem um treco, mas se recompõe e voa até a empresa convocando meio mundo, para uma reunião de emergência a portas fechadas. Dali sai uma brilhante idéia: contratar um espião, que arrume emprego “lá na tal” e descubra como, quantos e para quem.
O leitor identifica alguém parecido? Pois pode ter certeza que é o tal.
Existem milhares destes em qualquer ramo de atividade.
A paranóia se instala, todos os puxa-sacos vêm lhe contar fuxicos, invenções, tentando ganhar as boas graças do infeliz patrão, que novamente passa a receber o chumbo da sogra: “Não falei? O cara tá ficando doido! Precisa de um psicólogo!”
Sem querer, a sogra deu uma dentro. Ele pensa: “Por quê não buscar alguém que me aconselhe? Quem? Acho melhor pedir uns calmantes para um médico.”
O Otacílio entra em sena e diz: “Faz tempo que eu quero lhe dizer algo e não pode passar de hoje!”
“Fala Otacílio!”, consegue responder.
“Eu nunca pensei em fazer o que estou fazendo, estou explodindo e quero minhas contas!...”
“Que isto meu caro, sou eu, seu amigo. Acha que é hora de falar nisto? Só confio em você!”
“Vou aguentar mais um pouco, mas arranja alguém para o meu lugar, senão minha mulher me mata. Minha pressão chegou a 17 X 13. Isto não é vida!”, confidencia o Otacílio.
Nosso herói quase despenca. Toma água, café, água gasosa, come um iogurte, vomita tudo e se pergunta: “Onde foi que eu errei?”

Exatamente neste ponto, se usar uma visão sócio-antropológica associada ao método científico, o consultor, quando contratado, inicia um diagnóstico da empresa.
Questões como: “Quando começou a empresa? Como? Onde? Por quê? Para servir a que ramo? Quem alavancou? Como evoluiu? Com foram feitos os primeiros contratos? Quando iniciaram a fazer (se os fazem) os planejamentos? Por quanto tempo se estendem os planejamentos? Qual o patrimônio social da empresa? Quanto vale a marca do(s) produto(s)? Qual o nome do porteiro? Quem faz as compras? Quem cuida do almoxarifado? Qual o estoque mínimo necessário? Quantos são os fornecedores? São propositadamente diversificados, de forma a permitir que cotemos os preços das mercadorias? Que gastos supérfluos estão sendo feitos? Qual a capacidade ociosa ou sobrecarregada a firma está suportando? Quantos são os compradores da Empresa? Existe só um? Qual o grau de satisfação dele(s) para conosco? Que área está servindo de gargalo empresarial? Quais bancos nos oferecem vantagens reais? Quando paramos de otimizar nosso produto/produção? Como está a comunicação intra/entre os departamentos? Como anda a manutenção dos equipamentos industriais? Os equipamentos são padronizados de forma a serem substituídos por diversas marcas, conforme os preços e a qualidade? Está o RH, pelo menos obtendo informações, sobre a doença do pai do pai do torneiro chefe? Mais outras cem perguntas devem ser analisadas”

Paramos por aqui, pois não tivemos a intenção de falar sobre nenhuma novidade. Nem usamos coerência, para fazer as perguntas, as deixamos fluir, pois as fazemos sempre, checando sem parar.
Muitos já nos perguntaram: “O quê um psiquiatra entende disto?”
Nossa resposta é: “Nada, se o psiquiatra, psicólogo, engenheiro, consultor, administrador, gerente ou diretor, não perceberem como se deve usar e para que serve o método diagnóstico, aprendido com o Método Científico de raciocinar”.
A Cultura da empresa não é só um luxo, ou um modernismo, que se tenta impor goela abaixo. É questão de vida ou morte, se deixarmos que os otacílios dirijam a empresa e não causem preocupação, pois o dinheiro está entrando fácil. Entretanto, criou uma brecha tão grande, que lá na Vila, outro concorrente e sabem-se lá quantos, usaram o mesmo caminho, só aperfeiçoando um pouco daquilo?
Conhecemos empresas, onde uma análise banal, nos revela qual sua vida útil. Em quanto tempo poderão estar falidas, se certas idéias não forem identificadas, discutidas, implantadas e não forem eliminados seus gargalos.

Só para criar um raciocínio: em japonês, um mesmo ideograma significa risco e oportunidade. Cabe ao bom empresário escolher, como vai lê-lo.
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EE: www.drmarcio.com

Marcio Funghi de Salles Barbosa

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