Ja perdeu.
padre
tempo,horas, dias,semanas,meses e anos.
Indo em capelas, mesquitas e demais lugares sagrados.
Nao seria melhor, meditar sobre seu desempenho na sociedade?
Muitos cuidam da reputação, mas não da consciência.
Padre Antônio Vieira
NÃO PENSE DUAS VEZES...
Padre fabio de Melo
A felicidade é um susto. Chega na calada da noite, na fala do dia, no improviso das horas. Chega sem chegar, insinua mais que propõe... Felicidade é animal arisco. Tem que ser adimirada à distância porque não aceita a jaula que preparamos para ela. Vê-la solta e livre no campo, correndo com sua velocidade tão elegante é uma sublime forma de possuí-la.
Felicidade é chuva que cai na madrugada, quando dormimos. O que vemos é a terra agradecida, pronta para fecundar o que nela está sepultado, aguardando a hora da ressurreição.
Felicidade é coisa que não tem nome. É silêncio que perpassa os dias tornando-os mais belos e falantes. Felicidade é carinho de mãe em situação de desespero. É olhar de amigo em horas de abandono. É fala calmante em instantes de desconsolo.
Felicidade é palavra pouca que diz muito. É frase dita na hora certa e que vale por livros inteiros.
Eu busco a frase de cada dia, o poema que me espera na esquina, o recado de Deus escrito na minha geladeira... Eu vivo assim... Sem doma, sem dona, sem porteiras, porque a felicidade é meu destino de honra, meu brasão e minha bandeira. Eu quero a felicidade de toda hora. Não quero o rancor, não quero o alarde dos artifícios das palavras comuns, nem tampouco o amor que deseja aprisionar meu sonho em suas gaiolas tão mesquinhas.
O que quero é o olhar de Jesus refletido no olhar de quem amo. Isso sim é felicidade sem medidas. O café quente na tarde fria, a conversa tão cheia de humor, o choro vez em quando.
Felicidades pequenas... O olhar da criança que me acompanha do colo da mãe, e que depois, à distância ,sorri segura, porque sabe que eu não a levarei de seu lugar preferido.
A felicidade é coisa sem jeito, mas com ela eu me ajeito. Não forço para que seja como quero, apenas acolho sua chegada, quando menos espero.
E então sorrio, como quem sabe,que quando ela chega, o melhor é não dispersar as forças... E aí sou feliz por inteiro na pequena parte que me cabe.
O que hoje você tem diante dos olhos? Merece um sorriso? Não pense duas vezes...
Nem todos os anos que passam se vivem: uma coisa é contar os anos, outra é vivê-los.
Padre Antônio Vieira
HOJE É TEMPO DE SER FELIZ!
Padre Fábio de Melo
A vida é fruto da decisão de cada momento. Talvez seja por isso, que a idéia de plantio seja tão reveladora sobre a arte de viver.
Viver é plantar. É atitude de constante semeadura, de deixar cair na terra de nossa existencia as mais diversas formas de sementes.
Cada escolha, por menor que seja, é uma forma de semente que lançamos sobre o canteiro que somos. Um dia, tudo o que agora silenciosamente plantamos, ou deixamos plantar em nós,será plantação que poderá ser vista de longe...
Para cada dia, o seu empenho. A sabedoria bíblica nos confirma isso, quando nos diz que "debaixo do céu há um tempo para cada coisa!"
Hoje, neste tempo que é seu, o futuro está sendo plantado. As escolhas que você procura, os amigos que você cultiva, as leituras que você faz, os valores que você abraça, os amores que você ama, tudo será determinante para a colheita futura.
Felicidade talvez seja isso: alegria de recolher da terra que somos, frutos que sejam agradáveis aos olhos!
Infelicidade, talvez seja o contrário.
O que não podemos perder de vista é que a vida não é real fora do cultivo. Sempre é tempo de lançar sementes... Sempre é tempo de recolher frutos. Tudo ao mesmo tempo. Sementes de ontem, frutos de hoje, Sementes de hoje, frutos de amanhã!
Por isso, não perca de vista o que você anda escolhendo para deixar cair na sua terra. Cuidado com os semeadores que não lhe amam. Eles têm o poder de estragar o resultado de muitas coisas.
Cuidado com os semeadores que você não conhece. Há muita maldade escondida em sorrisos sedutores...
Cuidado com aqueles que deixam cair qualquer coisa sobre você, afinal, você merece muito mais que qualquer coisa.
Cuidado com os amores passageiros... eles costumam deixar marcas dolorosas que não passam...
Cuidado com os invasores do seu corpo... eles não costumam voltar para ajudar a consertar a desordem...
Cuidado com os olhares de quem não sabe lhe amar... eles costumam lhe fazer esquecer que você vale à pena...
Cuidado com as palavras mentirosas que esparramam por aí... elas costumam estragar o nosso referencial da verdade...
Cuidado com as vozes que insistem em lhe recordar os seus defeitos... elas costumam prejudicar a sua visão sobre si mesmo.
Não tenha medo de se olhar no espelho. É nessa cara safada que você tem, que Deus resolveu expressar mais uma vez, o amor que Ele tem pelo mundo.
Não desanime de você, ainda que a colheita de hoje não seja muito feliz.
Não coloque um ponto final nas suas esperanças. Ainda há muito o que fazer, ainda há muito o que plantar, e o que amar nessa vida.
Ao invés de ficar parado no que você fez de errado, olhe para frente, e veja o que ainda pode ser feito...
A vida ainda não terminou. E já dizia o poeta "que os sonhos não envelhecem..."
Vai em frente. Sorriso no rosto e firmeza nas decisões.
Deus resolveu reformar o mundo, e escolheu o seu coração para iniciar a reforma.
Isso prova que Ele ainda acredita em você. E se Ele ainda acredita, quem sou eu pra duvidar... (?)
Nós somos o que fazemos. O que não se faz não existe. Portanto, só existimos quando fazemos. Nos dias que não fazemos, apenas duramos
Padre Antônio Vieira
O bem ou é presente, ou passado, ou futuro: se é presente, causa gosto; se é passado, causa saudade; se é futuro, causa desejo.
Padre Antônio Vieira
O caminho da verdade é único e simples; o da falsidade, vário e infinito.
Padre Antônio Vieira
O ENCANTO NOSSO DE CADA DIA!
Padre Fabio de Melo
Ainda bem que o tempo passa! Já imaginou o desespero que tomaria conta de nós se tivéssemos que suportar uma segunda feira eterna?
A beleza de cada dia só existe porque não é duradoura. Tudo o que é belo não pode ser aprisionado, porque aprisionar a beleza é uma forma de desintegrar a sua essência. Dizem que havia uma menina que se maravilhava todas as manhãs com a presença de um pássaro encantado. Ele pousava em sua janela e a presenteava com um canto que não durava mais que cinco minutos. A beleza era tão intensa que o canto a alimentava pelo resto do dia. Certa vez, ela resolveu armar uma armadilha para o pássaro encantado. Quando ele chegou, ela o capturou e o deixou preso na gaiola para que pudesse ouvir por mais tempo o seu canto.
O grande problema é que a gaiola o entristeceu, e triste, deixou de cantar.
Foi então que a menina descobriu que, o canto do pássaro só existia, porque ele era livre. O encanto estava justamente no fato de não o possuir. Livre, ele conseguia derramar na janela do quarto, a parcela de encanto que seria necessário, para que a menina pudesse suportar a vida. O encanto alivia a existência...Aprisionado, ela o possuia, mas não recebia dele o que ela considerava ser a sua maior riqueza: o canto!
Fico pensando que nem sempre sabemos recolher só encanto... Por vezes, insistimos em capturar o encantador, e então o matamos de tristeza.
Amar talvez seja isso: Ficar ao lado, mas sem possuir. Viver também.
Precisamos descobrir, que há um encanto nosso de cada dia que só poderá ser descoberto, à medida em que nos empenharmos em não reter a vida.
Viver é exercício de desprendimento. É aventura de deixar que o tempo leve o que é dele, e que fique só o necessário para continuarmos as novas descobertas.
Há uma beleza escondida nas passagens... Vida antiga que se desdobra em novidades. Coisas velhas que se revestem de frescor. Basta que retiremos os obstáculos da passagem. Deixar a vida seguir. Não há tristeza que mereça ser eterna. Nem felicidade. Talvez seja por isso que o verbo dividir nos ajude tanto no momento em que precisamos entender o sentimento da tristeza e da alegria. Eles só são suportáveis à medida em que os dividimos...
E enquanto dividimos, eles passam, assim como tudo precisa passar.
Não se prenda ao acontecimento que agora parece ser definitivo. O tempo está passando... Uma redenção está sendo nutrida nessa hora...
Abra os olhos. Há encantos escondidos por toda parte. Presta atenção. São miúdos, mas constantes. Olhe para a janela de sua vida e perceba o pássaro encantado na sua história. Escute o que ele canta, mas não caia na tentação de querê-lo o tempo todo só pra você. Ele só é encantado porque você não o possui.
E nisto consiste a beleza desse instante: o tempo está passando, mas o encanto que você pode recolher será o suficiente para esperar até amanhã, quando o passaro encantado, quando você menos imaginar, voltar a pousar na sua janela.
LUIZA, A MULHER QUE NOS ENSINA.
Padre Fábio de Melo
Luiza é o seu nome. A dor que sente não tem nome. Brota das razões mais secretas da alma. Coisa de mãe, coisa de gente que soube recriar o mundo a partir do próprio ventre. A maternidade coloca as mulheres numa parceria invejável com Deus!
Luiza contou-me rapidamente sobre sua dor. Eu não pude ver os seus olhos, mas pude escutar sua alma.
O seu filho de 30 anos, médico, oficial da marinha estava morto. Vítima de uma fatalidade, perdeu a vida ao atravessar um cruzamento em Florianópolis.
Depois que ouvi Luiza eu fiquei pensando no mistérios das perguntas que nos rondam, toda vez que a dor vem nos visitar.
Fiquei tentando entender o quanto deve ser difícil para uma mulher ter que protagonizar a imagem da Pietá, a virgem que segura o filho morto nos braços, aos pés do calvário.
Recolher o filho do chão, aconchegá-lo ao colo e despedir-se dele definitivamente.
A crueza da cena é uma proposta ao silêncio. Arranca-me do mundo das palavras, das respostas prontas e faz-me sentar ao chão, ao lado da mãe, para que eu possa ouvir sua respiraçao ofegante de dor.
Arranca-me dos meus livros, da minha Teologia sistematizada e convida-me a sujar-me na terra do calvário, onde o sangue do filho mistura-se às lágrimas da mãe.
Mistura diferente daquela que o troxe à vida, quando o seu sangue circulava dependente do sangue da sua primeira mulher.
Lágrimas diferentes de tantas outras já derramadas. Lágrimas de alegria por ver o filho dar os primeiros passos; lágrimas de preocupação em noites em que ele demorava voltar pra casa. Lágrimas de vitória, quando em noite especial e de gala, aquele garoto crescido, que até tão pouco tempo lhe confiava os joelhos esfolados de futebol, de quedas de bicicleta, agora estava pronto para medicar as dores do mundo.
Um filho especial, como ela mesma me confiara.
Luiza e sua dor. Luiza e suas saudades. Luiza e suas lições.
Fiquei pensando nas minhas pequenas reclamações. Nos cansaços diários que me desiludem e que me despregam da alegria. Pensei no coração de Luiza e quis deixar de reclamar da vida.
O meu sofrimento perde a sua força quando eu o coloco ao lado dssa mulher. E nisso já está a ressurreição do seu filho. Esta dor nos ensina e nos coloca no rumo da sabedoria. Da mesma forma que Maria nos aponta para o sofrimento de Jeus, para que entendamos o nosso sofrimento.
Maria e Luiza são mulheres parecidas nesta hora. Ambas embalaram o filho morto nos braços. Canções de ninar secretas foram entoadas nos silêncios dos lábios. O choro de mãe é oração que tem o poder de mudar o mundo. Só precisamos parar para ouvir...
Hoje, no silêncio de sua dor, pare pra pensar no sofrimento de Luiza. Exercite-se na proeza de esquecer o que lhe aflige, e recorde-se dessa mulher que desconhecemos o rosto, mas conhecemos a dor. Ela tem muito a nos ensinar. Ela é um livro que pode ser lido sem palavras. Ela é um testemunho vivo de que na vida, mesmo nas perguntas mais doídas, há sempre uma esquina que pode nos dar outras opções, além da morte.
Na prece silenciosa que essa mãe nos desperta, permaneçamos.
Amém.
O INACABADO QUE HÁ EM MIM.
Padre Fabio de Melo
Eu me experimento inacabado. Da obra, o rascunho. Do gesto, o que não termina.
Sou como o rio em processo de vir a ser. A confluência de outras águas e o encontro com filhos de outras nascentes o tornam outro. O rio é a mistura de pequenos encontros. Eu sou feito de águas, muitas águas. Também recebo afluentes e com eles me transformo,
O que sai de mim cada vez que amo? O que em mim acontece quando me deparo com a dor que não é minha, mas que pela força do olhar que me fita vem morar em mim? Eu me transformo em outros? Eu vivo para saber. O que do outro recebo leva tempo para ser decifrado. O que sei é que a vida me afeta com seu poder de vivência. Empurra-me para reações inusitadas, tão cheias de sentidos ocultos. Cultivo em mim o acúmulo de muitos mundos.
Por vezes o cansaço me faz querer parar. Sensação de que já vivi mais do que meu coração suporta. Os encontros são muitos; as pessoas também. As chegadas e partidas se misturam e confundem o coração. É nesta hora em que me pego alimentando sonhos de cotidianos estreitos, previsíveis.
Mas quando me enxergo na perspectiva de selar o passaporte e cancelar as saídas, eis que me aproximo de uma tristeza infértil.
Melhor mesmo é continuar na esperança de confluências futuras. Viver para sorver os novos rios que virão.
Eu sou inacabado. Preciso continuar.
Se a mim for concedido o direito de pausas repositoras, então já anuncio que eu continuo na vida. A trama de minha criatividade depende deste contraste, deste inacabado que há em mim. Um dia sou multidão; no outro sou solidão. Não quero ser multidão todo dia. Num dia experimento o frescor da amizade; no outro a febre que me faz querer ser só. Eu sou assim. Sem culpas.
O mal por vezes vem de onde menos se espera.
Filme (O crime de Padre Amaro_)
O problema social não é simples questão de estômago. É uma questão de dignidade.
Padre Dehon
O que eu posso, eu não posso como quero...as vezes!
Padre Fábio de Mello
Ora vede: Definindo S. Bernardo o amor fino, diz assim: Amor non quaerit causam, nec fructum: "O amor fino não busca causa nem fruto". Se amo, porque me amam, tem o amor causa; se amo, para que me amem, tem fruto: o amor fino não há de ter por quê nem para quê. Se amo por que me amam, é obrigação, faço o que devo; se amo para que me amem, é negociação, busco o que desejo. Pois como há de amar o amor para ser fino? Amo, quia amo, como ut amem: amo, porque amo, e amo para amar. Quem ama porque o amam, é agradecido; quem ama, para que o amem, é interesseiro; quem ama, não porque o amam, nem para que o amem, esse só é fino.
Padre Antônio Vieira
Porque receberam de Deus este dom e são filhos da sua especial predileção, os jovens são alvo dos ataques mais apaixonados do mal. Por isso precisamos ter um carinho dobrado pelos nossos jovens, tanto pelo perigo que correm, como pelo bem que trazem consigo.
Padre Dehon
Que coisa é a conversão da alma, senão um homem dentro de si, e ver-se a si mesmo.
Padre Antônio Vieira
Quem está perdido em Deus está achado neste mundo.
Padre Fábio de Melo
Quem ti Abandonou não ti conheceu E quem não ti conheceu já mais poderia de ti amando
Padre Fabio de Melo
Quereis só o que podeis, e sereis onipotentes.
Padre Antônio Vieira
Só quem ama tem disposição de ir
Padre Fábio de Mello
além da superfície .
PERGUNTAS E RESPOSTAS...
Padre Fabio de melo
Há dois tipos de perguntas. Uma que precisa ser respondida e outra precisa ser vivida. Há perguntas práticas e perguntas existenciais. Perguntas práticas se contextualizam no horizonte da objetividade. Perguntas existenciais não provocam respostas imediatas. Viver é uma forma de respondê-las. É maravilhoso conviver com elas...
O que torna uma pessoa especial é sua capacidade de viver intensamente por uma causa. São raras nos dias de hoje. Vive-se muito pela metade ultimamente. Pessoas que se empenham na realização de seus sonhos não se conformam com a uniformidade. Assumem o preço de serem diferentes e, geralmente, nadam contra a corrente. Isso requer coragem.
Coragem de ser, não simplesmente de fazer. Ser é mais difícil do que fazer, afinal, é no ser que o fazer encontra o seu sustento. Faço a partir do que sou. Não, o contrário.
Tenho encontrado muita gente perdida no muito fazer. Gente que perdeu totalmente o referencial existencial de suas vidas. Gente que se empenhou e investiu na vida só para um dia poder fazer alguma coisa. Estudou, lutou, aprofundou, com o desejo de um dia poder desempenhar uma função.
É claro que o fazer também realiza, faz feliz, mas não podemos negar que há uma realidade que precede o mundo da prática.
O significado que sou
No silêncio do coração, há um lugar que não sabe fazer nada. É lá que nos descobrimos em nosso primeiro significado. É ele também o nosso lado mais sedutor. É ele que faz com que as pessoas se apaixonem por nós. É justamente por isso que ele tem que ser bem descoberto, de maneira que, quando façamos o que quer que seja, tudo o que fizermos tenha as marcas do que somos. É simples. Medicina muita gente faz, mas é no exercício da profissão que cada pessoa se mostra em sua intimidade mais profunda. Aí mora a diferença. Muitos Fazem a mesma faculdade, mas se encontram de maneira diferente com o conhecimento que recebem. Realizo tudo a partir de minha particularidade. Sou único, ainda que imitado por muitos.
Eis a questão
Essas coisas me fazem pensar na beleza e na responsabilidade que essa diferença nos traz. Ela nos coloca diante da vida como um acontecimento que merece ser sorvido com toda a intensidade do nosso coração. Agir é um desdobramento do meu ser. Eu sou, antes de fazer qualquer coisa. Há em mim uma realidade que me faz significar, mesmo que um dia eu fique totalmente incapacitado de realizar qualquer ação. Eu sou, mesmo na incapacidade dos movimentos e na impossibilidade dos gestos.
Nem sempre podemos compreender tudo isso, por mais simples que seja. Vivemos na era da utilidade, onde tudo tem que estar conectado a uma função prática, onde o fazer prevalece sobre o ser. O que você faz na vida? Esta é a pergunta.
O que você é na vida? Continua sendo a pergunta. Mas a primeira é mais fácil responder. Dizer o que se faz não dá tanto trabalho quanto dizer o que se é. O que se faz é simples de se dizer e as palavras nos ajudam, mas dizer o que se é, não é tão simples assim, e por vezes, as palavras nem sempre nos socorrem.
Sou muito mais do que posso dizer sobre mim mesmo. Você também. Por isso não gostaria que nossa conversa terminasse com uma pergunta pragmática, dessas que se escutam em todas as esquinas que costumamos freqüentar.
Opto por uma pergunta que não espera por resposta imediata, tão pouco pelo desconcerto da fala. Só lhe peço que honestamente debruce-se sobre ela: Quem é você?
Toda forma de saber nasce de um não saber
Padre Fábio de Melo
Todas as guerras deste mundo se fazem para conseguir a paz.
Padre Antônio Vieira
Simplifique sua vida!
Padre Fábio de Melo
Tudo o que é belo tende a ser simples. Afirmação generalizante? Não sei. O que sei é que a beleza anda de braços dados com a simplicidade. Basta observar a lógica silenciosa que prevalece nos jardins. Vida que se ocupa de ser só o que é.
Não há conflito nas bromélias, não há angústia nas rosas, nem ansiedades nos jasmins. Cumprem o destino de florirem ao seu tempo e de se despedirem do viço quando é chegada a hora. São simples.
Não querem outra coisa, senão a necessidade de cada instante. Não há desperdício de forças, não há dispersão de energias. Tudo concorre para a realização do instante. Acolhem a chuva que chega e dela extraem o essencial. Recebem o sol e o vento, e morrem ao seu tempo.
Simplicidade é um conceito que nos remete ao estado mais puro da realidade. A semente é simples porque não se perde na tentativa de ser outra coisa. É o que é. Não desperdiça seu tempo querendo ser flor antes da hora. Cumpre o ritual de existir, compreendendo-se em cada etapa.
Já dizia o poeta: "Simplicidade é querer uma coisa só". Eu concordo com ele. O muito querer nos deixa complexos demais. Queremos muito ao mesmo tempo, e então nos perdemos no emaranhado dos desejos. Há o risco de que não fiquemos com nada, de que percamos tudo.
Aquele que muito quer corre o risco de nada ter, porque o empenho e o cuidado é que faz a realidade permanecer. O simples anda leve. Carrega menos bagagem quando viaja, e por isso reserva suas energias para apreciar a paisagem. O que viaja pesado corre o risco de gastar suas energias no transporte das malas. Fica preso, não pode andar pelo aeroporto, fica privado de atravessar a rua e se transforma num constante vigilante do que trouxe.
A simplicidade é uma forma de leveza. Nas relações humanas ela faz a diferença. O que cultiva a simplicidade tem a facilidade de tornar leve o ambiente em que vive. Não cria confusão por pouca coisa; não coloca sua atenção no que é acidental, mas prende os olhos naquilo que verdadeiramente vale à pena.
Pessoas simples são aquelas que se encantam com as coisas menores. Sabem sorrir diante de presentes simbólicos e sem muito valor material. A simplicidade lhe capacita para perceber que nem tudo precisa ter utilidade. E por isso é fácil presentear o simples.
Dar presentes aos complicados é um desafio. Não sabemos o que eles gostam, porque só na simplicidade é possível conhecer alguém. Só depois que as máscaras caem pelo chão e que os papéis são abandonados a gente tem a possibilidade de descobrir o outro na sua verdade.
Eu gostaria de me livrar de meus pesos. Queria ser mais leve, mais simples. Querer uma coisa só de cada vez. Abandonar os inúmeros projetos futuros que me cegam para a necessidade do momento. Projetos futuros valem à pena, desde que sejam simples, concretos e aplicáveis. Não gostaria que a morte me surpreendesse sem que eu tivesse alcançado a simplicidade. Até para morrer os simples têm mais facilidade. Sentem que chegou a hora, se entregam ao último suspiro e se vão.
Tenho uma intuição de que quando eu simplificar a minha vida, a felicidade chegará em minha casa, quando eu menos esperar.
( Padre Fábio de Melo )