O homem é Deus
Valter da Rosa Borges
a procura de Si mesmo.
O homem é o momento
Valter da Rosa Borges
em que Deus
se faz consciência
na Sua onisciência.
O homem inventou a igualdade.
Valter da Rosa Borges
Na natureza tudo é desigual.
A perfeição é invenção geométrica.
A ordem do mundo é o caos mutante.
A criação é sempre nova:
só acontece uma vez.
Se você aprender a ver
nunca mais dirá que o mundo
é o mesmo o tempo todo.
O hóspede não se apega
Valter da Rosa Borges
às coisas e aos lugares.
Nem sequer às pessoas.
Mas é difícil ser hóspede.
O infinito nos priva
Valter da Rosa Borges
da emoção de chegar.
Somente o que é finito
tem início, meio e fim.
O infinito é caminho,
que não termina ou começa
em qualquer tempo e lugar.
O instante sem fim
Valter da Rosa Borges
é aquela experiência
que enquanto dura parece
ser o êxtase da eternidade.
O livre-pensador é visto como um perigoso inimigo do rebanho humano.
Valter da Rosa Borges
O louco é insuportável,
Valter da Rosa Borges
porque vive perdido
na liberdade total.
O maior castigo que Deus infligiria aos demônios seria obrigá-los a fazer eternamente o bem. É lamentável que os teólogos não tenham pensado nisso.
Valter da Rosa Borges
O mais íntimo de nós não recebe visitas.
Valter da Rosa Borges
O máximo de liberdade
Valter da Rosa Borges
ocorre na solidão.
A liberdade menor
é partilhada com os outros.
Mas, sem eles, de que serve
a máxima liberdade
estéril da solidão?
O mistério nasce na distância e morre na intimidade.
Valter da Rosa Borges
O mundo é feito por nós.
Valter da Rosa Borges
Nós somos os nós do mundo
e em tudo estamos atados.
O eu sem nós não existe.
A morte é o eu desatado.
O mundo é mágico.
João Guimarães Rosa
As pessoas não morrem, ficam encantadas.
O mundo é o que tecemos
Valter da Rosa Borges
juntos todos os dias.
Tecelões e tessitura,
somos mãos e somos linhas.
O mundo é carne e tecido,
seres, fatos e coisas
vestindo o nu existir.
O ódio é nosso grilhão: o fantasma cultivado do que já não mais existe.
Valter da Rosa Borges
O passado cresce como musgo
Valter da Rosa Borges
nas paredes do presente,
até que não haja paredes
livres para o presente.
Até que não haja presente
e nem existam paredes.
O passado é que veio até mim ,como uma nuvem, vem para ser reconhecido;apenas não estou sabendo desifra-lo.
João Guimarães Rosa
O passado tem muitas portas
Valter da Rosa Borges
e, nele, nos perdemos muitas vezes,
sem encontrar a porta do presente.
O pó sonha ser carne.
Valter da Rosa Borges
A carne teme voltar ao pó.
O povo é um rebanho sempre a procura de um pastor.Mas, quase sempre, não sabe escolher o pastor.
Valter da Rosa Borges
O povo não entende o sábio. O sábio será sempre uma gota de óleo, boiando na superfície da água plebéia.
Valter da Rosa Borges
O presente nunca é puro:
Valter da Rosa Borges
há sempre as nódoas do passado.
O que chamamos de real é o nosso relacionamento com os outros, a experiência comum, a vida partilhada. A essa fase de nossa mente denominamos de consciência.
Valter da Rosa Borges
O sonho é, também, um tipo de consciência que não resulta inteiramente das nossas relações com o mundo exterior.
A consciência vigílica nos dá o ser social. A consciência onírica nos dá um ser ina-
preensível pelos padrões da consciência vígil.
O que é a alucinação, senão um conteúdo onírico objetivado? O sonho não é apenas a explicação simbólica dos nossos recalques: é uma atividade autônoma da mente.
Não será a loucura um sonho de que não se acorda? Um sonho com a aparência de vigília? Os hipnotizados também dão a impressão de que estar conscientes das coisas que os rodeiam.
Vigília é a vida psíquica seletiva. O sonho, parece-nos, é vida psíquica total. O fluxo psíquico entre as mentes parece incessante e a vigília nada mais é do que uma interrupção desse fluxo. O nosso eu é uma perturbação desse processo psíquico total.
Observou-se que o estado de plena vigília não dura mais que um minuto ou dois por hora. Assim, as nossas distrações ou "fugas" da realidade externa são mais freqüentes do que pensamos. Há pessoas que, por deficiência da censura ou controle do ego, permanece, por tempo muito longo, no mundo do sonho. A sua vida vigílica se torna, assim, um hiato no seu universo onírico.
Há um universo psíquico paralelo ao universo físico. Uma forma de percepção que não recolhe seu material do mundo físico, embora manipule com os dados desse universo. Contudo, as experiências do mundo psíquico nem sempre coincidem com as do mundo físico. Há um outro eu, movimentando situações e pessoas que não conhecemos na vida vigílica.
O que Deus faz,
Valter da Rosa Borges
faz a Si mesmo,
porque tudo é Ele.